lunes, 25 de mayo de 2009

Efeitos de carga animal, pastagem melhorada e da idade de desmame no comportamento reprodutivo de vacas primíparas

RESUMO

Foram utilizadas 92 vacas primíparas aos três anos de idade (46 Braford – 46 Hereford), manejadas em campo nativo nas cargas animais (CA) de 240 kg/ha (T1) e 320 kg/ha (T2), de 01.09.00 a 06.03.01, ou em pastagem melhorada de azevém (Lolium multiflorum L.) na CA de 400 kg/ha (T3) por 80 dias pós-parto e, posteriormente, em CA em campo nativo igual a T2 até o desmame à idade convencional (06.03.01). A estação de acasalamento transcorreu de 23.11.00 a 15.02.01. O desmame precoce (DP) foi realizado em 46 vacas em 01.01.01. O peso ao parto (PP), ao início do acasalamento (PIA) e ao final do acasalamento (PFA), não foi influenciado pelos tratamentos. Entretanto, os tratamentos influenciaram significativamente a condição corporal ao parto (CCP), ao início do acasalamento (CIA) e ao final do acasalamento (CFA). As vacas Braford tiveram PP, PIA e PFA significativamente superiores em relação às vacas Hereford. A taxa de prenhez (TP), o intervalo de partos (IEP) e o intervalo parto-concepção (IPC) não foram influenciados pelo DP. A TP não foi influenciada pelos tratamentos (T1= 93,8%; T2= 90,6%; T3= 100%) e pelo DP (DP= 97,8%; DC= 91,3%). Contudo, aos 21 dias após o início do acasalamento, 15,6 e 17,9% das vacas do T1 e T3, respectivamente, encontravam-se prenhes, enquanto nenhuma vaca (0,0%) do T2 havia concebido. Aos 42 dias após o início do acasalamento, 46,9 e 71,4% das vacas do T1 e T3 encontravam-se prenhes, respectivamente, contra 37,5% das vacas do T2. As vacas do T3 tiveram IEP (386,8 dias) e IPC (101,8 dias) significativamente menores que as vacas do T2 (399,0 e 114,0 dias, respectivamente). O T1 teve IEP (390,9 dias) e IPC (105,9 dias) intermediários, não diferindo dos demais tratamentos.

Introdução

A pecuária de corte no Rio Grande do Sul e no Brasil é uma atividade cada vez mais pressionada pela sociedade e pelo mercado, interno e externo, os quais exigem maior produtividade do setor e qualidade de produto. A necessidade de se aumentar a eficiência produtiva passa por questões como aumento das taxas de natalidade e desmame e diminuição da idade ao primeiro parto e da idade de abate (Beretta & Lobato, 1998), visando um produto de qualidade em períodos de tempo cada vez mais curtos.

A eficiência reprodutiva dos rebanhos é a variável de maior impacto no sistema, influenciando a produção por área e o custo de produção de carne. O rebanho de cria historicamente é mantido nas áreas de menor fertilidade dos solos, consumindo, na sua grande maioria, pastagens nativas, as quais oscilam em quantidade e qualidade ao longo do ano. Essa sazonalidade tem marcado efeito sobre o desempenho reprodutivo das vacas, especialmente as vacas primíparas com cria ao pé. Assim, a adequação da carga animal com a capacidade de suporte dos campos nativos é de fundamental importância no manejo do rebanho de cria (Lobato, 1985).

No Rio Grande do Sul, as pastagens nativas ocupam 48% da área total do Estado, correspondente a mais de 10,5 milhões de hectares (IBGE, 1996), abrangendo 75 diferentes tipos de solos (Brasil, 1973), e fornecendo aproximadamente 90% da forragem utilizada pelos rebanhos bovino e ovino (Bertol et al., 1998). De acordo com Simeone & Lobato (1996), os baixos índices de reconcepção obtidos nos rebanhos comerciais, associados à elevada taxa de mortalidade, indicam que a lotação de uma cabeça por hectare, ou ainda, da exigência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária de 0,80 UA/ha, média ano, não está adequada à real capacidade de suporte do campo nativo.

Altas cargas animais durante o período pré e/ou pós-parto dificultam a recuperação da condição corporal da vaca após o parto, comprometendo seu desempenho reprodutivo e a produtividade do ciclo seguinte (Osoro, 1989; Orcasberro, 1991; Lobato, 1999). Existe vasta literatura indicando que o consumo reduzido de energia, no pré e pós-parto, retarda o crescimento dos folículos ovarianos após o parto, reduz o tamanho dos folículos dominantes, diminui o número de folículos secretores de estrógeno e aumenta a persistência dos folículos menores subordinados, influenciando negativamente o intervalo do parto à primeira ovulação (Wiltbank et al., 1962; Randel, 1990; Perry et al., 1991; Spitzer et al., 1995).

Trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de estudar os ajustes necessários entre o potencial produtivo dos campos nativos do Estado e as exigências dos rebanhos de cria (Simeone & Lobato, 1996; Lobato et al., 1998a, b; Fagundes et al., 2003). Entretanto, poucos ainda são os trabalhos desenvolvidos para avaliar o comportamento reprodutivo de vacas em pastagem melhorada no pré e pós-parto (Magalhães & Lobato, 1991; Lobato et al., 1998a, b; Lobato et al., 2000).

A amamentação é outro fator que influencia a retomada da atividade sexual pós-parto em vacas de corte. Segundo Short et al. (1994), a presença do bezerro ao pé da vaca e o ato de mamar criam uma série de estímulos metabólicos, nervosos e fisiológicos, os quais podem impedir a vaca de retomar o seu ciclo estral. A utilização do desmame dos bezerros a idades precoces (60-110 dias) é eficiente em incrementar a fertilidade das vacas (Simeone & Lobato, 1996; Lobato et al., 1999; Marques et al., 2000; Restle et al., 2001; Fagundes, 2001).

O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar os efeitos de cargas animais em campo nativo, em pastagem melhorada por 80 dias pós-parto, e de duas idades de desmame, 100 ou 180 dias, sobre o comportamento reprodutivo de vacas de corte primíparas.

 

Material e Métodos

O experimento transcorreu de setembro de 2000 a novembro de 2001 na Agropecuária Caty, localizada no segundo sub-distrito do município de Quaraí, pertencente à região fisiográfica denominada de Campanha, na fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul, a 30º 26' 04" latitude sul e 56º 01' 15" longitude oeste. Foram utilizadas 92 vacas primíparas aos três anos de idade, com cria ao pé, sendo 46 vacas Hereford e 46 vacas Braford, distribuídas aleatoriamente em três tratamentos referentes à pastagem:

T1 - 32 vacas (16 Hereford - 16 Braford) mantidas em campo nativo na carga animal de 0,6 EV/ha (1 EV = equivalente-vaca = 400 kg de peso vivo; Cocimano et al., 1983);

T2 - 32 vacas (16 Hereford - 16 Braford) mantidas em campo nativo na carga animal de 0,8 EV/ha; e

T3 - 28 vacas (14 Hereford - 14 Braford) mantidas em pastagem melhorada de azevém (Lolium multiflorum L.), em média por 80 dias pós-parto, na carga animal de 1 EV/ha, e, após, em carga animal igual a T2 em campo nativo.

Os campos nativos eram compostos predominantemente pelas gramíneas capim-caninha (Andropogon lateralis) e capim-melador (Paspalum dilatatum) e pela leguminosa pega-pega (Desmodium incanum).

Em 01/01/01, foi realizado o desmame de 50% dos bezerros de cada tratamento, sendo metade dos bezerros filhos de vacas de cada uma das duas raças, em média com 100 dias de idade (DP). O desmame do restante dos bezerros foi realizado em 06/03/01, quando os mesmos tinham, em média, 180 dias de idade (DC). Os seguintes tratamentos passaram a fazer parte do experimento:

DP: 46 vacas (23 Hereford - 23 Braford) separadas definitivamente de seus bezerros em 01/01/01, com idade média de 100 dias

DC: 46 vacas (23 Hereford - 23 Braford), as quais permaneceram amamentando seus bezerros até 06/03/01, quando os mesmos foram desmamados, em média, com 180 dias de idade.

Portanto, o experimento consistiu de três tratamentos referentes à pastagem, duas idades de desmame e duas raças (Hereford e Braford).

As vacas foram pesadas e tiveram a sua condição corporal (CC) avaliada (escala de 1 a 5; Lowman et al., 1973) no início do experimento, ao parto e, após, a cada 28 dias até a data do DC (06/03/01).

A estação de acasalamento estendeu-se de 23/11/00 a 15/02/01. O diagnóstico de gestação foi realizado em 15/04/01, por meio de palpação retal. O intervalo de partos (IEP) foi calculado com base na segunda data de parição. A data de concepção para cada vaca foi calculada subtraindo-se 285 dias da segunda data de parição, correspondente ao tempo médio de gestação (Sawyer et al., 1991). Assim, calculou-se o intervalo parto-concepção (IPC).

A cada 28 dias, eram coletadas amostras de pasto, cortadas rentes ao solo, de cada potreiro utilizando-se um quadrado de 0,25 m. As amostras eram pesadas e secas em estufa de ar forçado a 60ºC por 72 horas para estimar a disponibilidade de matéria seca (MS). Após, as amostras foram moídas e encaminhadas ao Laboratório de Nutrição Animal da UFRGS para determinação de proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN).

O experimento foi analisado segundo um delineamento completamente casualizado. As variáveis de resposta contínua, com distribuição considerada normal, foram analisadas mediante análise de variância, considerando o número desigual de repetições. As diferenças entre as médias foram testadas pelo teste Tukey.

A porcentagem de prenhez foi analisada pelo qui-quadrado (Steel & Torrie, 1989), considerando-se os efeitos de tratamentos, idade de desmame e raça das vacas. Todas as interações duplas e tríplice foram testadas.

Foram analisados o peso e CC ao parto (PP, CCP), ao início do acasalamento (PIA, CIA) e ao final do acasalamento (PFA, CFA).

A análise de evolução de peso vivo (PV) das vacas foi subdividida em dois períodos, devido à aplicação do desmame precoce na metade do acasalamento (01/01/01). Os dois períodos em que foram analisados a variação de peso das vacas foram: a) do início à metade do acasalamento (GMD1); b) da metade do acasalamento ao desmame convencional (GMD2).

IEP, IPC, PV, CC e ganho de peso das vacas nos diferentes períodos foram analisados segundo o seguinte modelo geral:

Yhijk = u + Gh + Li + CAj + LxCA ij + Lx Gh + CAx Ghj + LxCAxGhij + b1 DJP + b2 CCIE + ehijk

em que Yhijk = IEP, IPC, PP, CCP, PIA, CIA, PFA, CFA, GMD1 ou GMD2 realizada na k-ésima vaca, da h-ésima composição racial, do i-ésimo tratamento pertencente à j-ésima época de desmame; u = média geral; Gh = efeito fixo da h-ésima composição racial; L= efeito fixo do i-ésimo tratamento; CAj = efeito fixo da j-ésima época de desmame; LxCAij = efeito fixo da interação entre a j-ésima época de desmame e o i-ésimo tratamento; LxGhi = efeito fixo da interação entre o i-ésimo tratamento e a h-ésima composição racial; LxCAxGhij = efeito fixo da interação entre o i-ésimo tratamento, a h-ésima composição racial e a j-ésima época de desmame; DJP = data juliana do parto; CCIE = condição corporal ao início do experimento; b1 e b2 = coeficientes de regressão linear; ehijk = efeito residual aleatório associado à observação yhijk.

 

Resultados e Discussão

Os tratamentos e a raça das vacas influenciaram significativamente (P<0,01)>0,05) da interação entre as duas variáveis. O PP também foi influenciado (P<0,01)>Tabela 1).

 

 

Os PP foram semelhantes aos observados por Barcellos & Lobato (1997), em Bagé, os quais encontraram PP de 372 kg para vacas primíparas Hereford e 411 e 398 kg para vacas ½ e ¼ Braford, respectivamente, paridas na primavera, e superiores aos observados por Quadros & Lobato (1996), de 320 kg para vacas primíparas Hereford e suas cruzas. Os maiores pesos das vacas Braford devem-se ao maior potencial de crescimento decorrente da heterose e à maior adaptação ao meio, permitindo que esses animais atinjam maior peso adulto (Cartwright, 1976; Fries, 1996). O PP das vacas Hereford, de 362,5 kg, está de acordo com Rovira (1996), segundo o qual vacas de raças britânicas parindo aos três anos de idade devem ter PP entre 340 e 360 kg de PV, o que significa 90% do peso adulto de 400-420 kg, para alcançarem bom desempenho reprodutivo. Na Argentina, Carrillo (1999) trabalhou com grande número de vacas cruza Angus x Hereford, de 1970 a 1989, e observou taxas de prenhez de 94-95% em vacas parindo, em média, com 374 kg e, no mínimo, com 364 kg.

A melhor CCP das vacas Braford deve-se, provavelmente, à melhor adaptação das mesmas ao ambiente de produção. Conforme Frisch (2000), os animais cruzados adaptam-se melhor às condições ambientais, sendo a produtividade tanto maior quanto maior a adaptação. Segundo o autor, as vacas cruzadas têm menores exigências de mantença que as vacas de raça pura.

A CCP das vacas do T3 foi significativamente superior aos demais tratamentos (Tabela 1). Holroyd et al. (1983), na Austrália, trabalharam com vacas primíparas em campo nativo (CN) na lotação de 1 vaca/4 ha, e em pastagem melhorada (PM) adubada com superfosfato triplo, na lotação de 1vaca/2 ha. Os autores observaram que as vacas mantidas em CN perderam condição corporal durante a estação seca e, ao final da mesma, tinham 2,6 pontos de CC a menos que as vacas mantidas em PM.

Embora a disponibilidade de MS no potreiro de pastagem melhorada, no início do experimento, em 01/09/00, tenha sido relativamente baixa (934 kg MS/ha), a qualidade da pastagem (FDN= 62,43%; PB= 12,23%) permitiu às vacas do T3 chegarem com melhor CC que as vacas dos demais tratamentos.

No Rio Grande do Sul, Lobato et al. (1998b) também observaram melhores desempenhos pré e pós-parto para vacas primíparas mantidas em pastagem melhorada no pré e pós-parto e em campo nativo no pré e pastagem melhorada no pós-parto. Cachapuz et al. (1990) observaram GMD significativamente (P<0,01)>

Não houve diferença (P>0,05) de CIA entre T1 e T3, sendo ambos, porém, superiores (P<0,01)>Tabela 2). As possíveis interações entre os tratamentos também não foram significativas (P>0,05). A carga animal em campo nativo de 0,6 EV/ha permitiu às vacas aumentar CC do parto ao início do acasalamento. Ao início do acasalamento, a disponibilidade forrageira para T1 e T2 era de 3012 kg MS/ha e 2523 kg MS/ha, respectivamente, uma diferença de 489 kg MS/ha, enquanto as vacas do T3 estavam saindo do potreiro de pastagem melhorada e entrando em um potreiro de campo nativo, com disponibilidade de 3632 kg MS/ha.

 

 

As médias para PIA e CIA, conforme os tratamentos e a raça das vacas, são apresentadas na Tabela 2.

Este período coincidiu com o pico de lactação das vacas, período em que as necessidades de energia e proteína das vacas primíparas aumentam significativamente (NRC, 1996). Este aumento das necessidades nutricionais das vacas, somado à menor disponibilidade forrageira no T2, pode explicar porque estas vacas tenham chegado ao início do acasalamento com menor CC em relação aos demais tratamentos.

A análise de variância demonstrou efeito significativo de raça (P<0,01)>0,05). As médias estão na Tabela 3.

 

 

O PFA seguiu a mesma tendência do PIA, com as vacas Braford apresentando PFA significativamente (P<0,01)>

A utilização de pastagem melhorada durante 80 dias pós-parto e após, em carga animal de 0,8 EV/ha em campo nativo (T3), permitiu às vacas chegarem ao final do acasalamento com CC significativamente (P<0,01)>0,05) entre si. Apesar de a qualidade da pastagem no campo nativo (FDN= 78,33%; PB= 6,33%) ser inferior à pastagem melhorada (FDN= 64,29%; PB= 10,21%), quando da mudança das vacas para campo nativo em 20/11/00, a disponibilidade forrageira (3632 kg MS/ha) permitiu às vacas realizarem pastejo seletivo. Segundo Hodgson (1981), quando a disponibilidade permite ao animal realizar pastejo seletivo, a dieta consumida pelo mesmo é composta de maior quantidade de folhas em relação a caules.

As vacas submetidas a DP tiveram PFA significativamente (P<0,05)>

Melhoria na CC das vacas submetidas a desmame precoce têm sido relatada por vários autores (Moraes & Lobato, 1993; Simeone & Lobato, 1996; Lobato et al., 1999; Restle et al., 2001; Lobato et al., 2000; Fagundes et al., 2003; Marques et al., 2000), indicando mudança na partição dos nutrientes, quando retirada a amamentação, diminuindo as exigências nutricionais das vacas e permitindo às mesmas recuperarem CC.

A análise de variância não revelou diferença significativa (P>0,05) para GMD1 entre os tratamentos. A raça também não influenciou o GMD1 das vacas (P>0,05). As interações entre os tratamentos e a raça das vacas também não tiveram efeito significativo (P>0,05) sobre o GMDdas vacas. As médias para GMD1 são apresentadas na Tabela 4.

 

 

Estes resultados indicam que, quando a disponibilidade forrageira mantém-se em quantidades que não limitem o consumo voluntário, o efeito de carga animal inexiste. No Rio Grande do Sul, freqüentemente observam-se períodos de estiagem entre os meses de novembro e março, o que faz com que as pastagens nativas paralisem o seu crescimento, ocasionando perda de peso nos animais e baixos desempenhos reprodutivos dos rebanhos de cria (Lobato, 1985). Entretanto, no ano em que transcorreu o presente experimento, o volume de chuvas ultrapassou as médias da região, fazendo com que os campos nativos não paralisassem seu crescimento. Portanto, em um ano considerado normal, provavelmente não somente a carga animal, mas a raça também, influenciaria os resultados.

A análise de variância demonstrou efeito significativo (P<0,05)>2, em 06.03.01, não havendo efeito (P>0,05) de idade de desmame sobre o GMD(Tabela 5).

 

 

As vacas Hereford no T1 tiveram o maior GMD2, enquanto o menor foi apresentado pelas vacas Braford no T2, ambas diferindo significativamente (P<0,05)>0,05) de raças e dos tratamentos. Esses resultados sugerem que a alta disponibilidade forrageira em todos os tratamentos permitiu às vacas Hereford expressarem seu potencial, apresentando ganhos médios diários, embora estatisticamente não diferentes, superiores às Braford em todos os tratamentos, com exceção do T3. Sob condições favoráveis, os animais de raça britânica são mais produtivos que os zebuínos ou as cruzas. A heterose, geralmente, manifesta-se sob condições estressantes, em que o alimento é escasso, sendo de pouca magnitude quando o ambiente é favorável (Giannoni & Giannoni, 1987).

A ausência de diferença estatística (P>0,05) para GMD2, entre idades de desmame, pode ser explicada pelo volume de chuvas ocorrido em dezembro de 2000 e em janeiro de 2001. Em dezembro, o volume de chuvas ocorrido foi de 90 mm e em janeiro, de 195 mm. Assim, as pastagens nativas experimentaram um crescimento significativo no período, fazendo com que as vacas que não tiveram seus bezerros removidos em 01/01/2000 tivessem ganhos de peso significativos, semelhantes às vacas submetidas à DP. Khadem et al. (1994), na Nova Zelândia, também observaram ganhos de peso semelhantes entre vacas primíparas, as quais tiveram seus bezerros desmamados aos 84 (0,800 kg/dia) ou 147 (0,780 kg/dia) dias de idade. No experimento citado, as vacas de ambas as idades de desmame permaneceram no mesmo potreiro, onde a disponibilidade média de forragem foi de 3444 kg MS/ha. Os autores atribuíram esses resultados à observação de que as vacas que permaneceram amamentando passaram significativamente (P<0,01)>

Os tratamentos, as duas idades de desmame e a raça das vacas não influenciaram significativamente (P>0,05) a porcentagem de prenhez. As possíveis interações entre as variáveis estudadas também não foram fontes significativas (P>0,05) de variação (Tabela 6).

 

 

Os resultados de prenhez estão de acordo com Carrillo (1999), o qual cita que, quando o nível nutricional pós-parto sobrepassa certos níveis, a taxa de prenhez pode ser independente do tratamento prévio ao parto. No presente trabalho, a CIA média entre tratamentos foi de 3,63, acima do mínimo para vacas adultas (3,0), segundo Dziuk & Bellows (1983), e levemente superior ao considerado satisfatório (3,5) por Corah et al. (1975) e DeRouen et al. (1994), para vacas primíparas.

Quadros & Lobato (1996) observaram CIA de 3,20 e 3,13 e PIA de 365,5 kg e 355,3 kg para vacas primíparas mantidas em cargas animais de 0,8 EV/ha e 0,6 EV/ha, respectivamente, com taxas de prenhez de 86,8 e 96,7%, não diferindo entre si (P>0,05), para as duas cargas animais, respectivamente. Por outro lado, Gottschall & Lobato (1996) submeteram vacas primíparas à três cargas animais em campo nativo: 0,7; 0,8 e 0,9 EV/ha. Foram obtidos PIA de 315, 312 e 306 kg; CIA de 2,1; 2,2 e 2,0; e taxas de prenhez de 8,5; 10,4 e 0,0% para as cargas animais de 0,7; 0,8 e 0,9 EV/ha, respectivamente.

Embora não tenham sido verificadas diferenças na porcentagem de prenhez entre os tratamentos, aos 21 dias após o início do acasalamento, 15,6% das vacas do T1 e 17,9% das vacas do T3 haviam concebido, enquanto nenhuma vaca do T2 tinha concebido nos mesmos 21 dias. Aos 42 dias após o início da estação de acasalamento, enquanto 46,9 e 71,4% das vacas do T1 e T3, respectivamente, haviam concebido, somente 37,5% das vacas do T2 encontravam-se prenhes (Tabela 7).

 

 

Quanto mais tarde, dentro da estação de acasalamento a vaca conceber, mais tarde a mesma irá parir no ano seguinte, atrasando a concepção ano após ano, até que a mesma falhe em conceber. Portanto, a carga animal pode não ter influência sobre a taxa de prenhez final, mas pode afetar a permanência das vacas dentro do rebanho de cria. Se as vacas vêm a parir e conceber cedo dentro da estação de acasalamento, menor é a chance de as mesmas serem descartadas, permanecendo por mais tempo dentro do rebanho que as vacas que concebem tarde e falham em conceber após dois ou três anos.

A ausência de diferença estatística entre épocas de desmame na taxa de prenhez sugere que, quando o nível nutricional das vacas em lactação permite às mesmas terem PV e CC adequados, atenderem às exigências da lactação e terem moderados aumentos de peso durante a época de acasalamento, a supressão da lactação tem pouco efeito sobre a fertilidade das vacas. Vários resultados da literatura demonstram que a CC e o ganho de peso durante o acasalamento são fatores determinantes na decisão entre permitir que os bezerros fiquem junto às mães ou realizar o desmame na metade do acasalamento (Barcellos et al., 1996; Simeone & Lobato, 1996; Lobato et al., 2000).

Na data do DP, em 01.01.01, 36,9% das vacas submetidas a DP e 43,4% das vacas que permaneceram amamentando já haviam concebido (P>0,05). Ou seja, praticamente a mesma quantidade de vacas nos dois tratamentos de desmame já estava prenhe, fato que pode explicar a não observação de diferença estatística na taxa de prenhez entre as duas idades de desmame.

Os tratamentos influenciaram significativamente (P<0,01)>0,05) sobre o IEP e o IPC, bem como as interações duplas e a tríplice. As médias para IEP e IPC são apresentadas na Tabela 8.

 

 

O melhor estado nutricional das vacas do T3 permitiu às mesmas menor IPC em relação às vacas do T2, não havendo diferença entre T1 e T3, nem entre T1 e T2. Lobato et al. (1998b) não observaram diferença significativa no desempenho reprodutivo entre vacas primíparas mantidas em campo nativo no pré-parto e pastagem melhorada, por 70 dias no pós-parto, e pastagem melhorada, por 67 e 56 dias pré e pós-parto, respectivamente. Entretanto, as últimas apresentaram IEP 50 dias menor que as primeiras.

O IEP das vacas do T3 com acesso à pastagem melhorada por 80 dias pós-parto, embora tenha sido menor (386,8 dias) que nos demais tratamentos, foi 20 dias mais longo em relação ao IEP ideal de 365 dias (Lobato 1985). Lobato et al. (2000) avaliaram o desempenho reprodutivo de vacas primíparas cruzas taurinas e cruzas zebuínas, mantidas em pastagem melhorada de azevém e trevo vesiculoso durante o pré e pós-parto e submetidas à desmama dos bezerros, em média, com 70 dias (DP) ou 176 dias (DC). As vacas submetidas a DC tiveram IEP de 382,6 dias, semelhantemente ao observado no presente experimento (386,8 dias), porém as vacas submetidas à DP tiveram IEP de 359,6 dias, inferior aos 365 dias considerados como ideal. No presente experimento, as vacas tiveram acesso à pastagem melhorada somente por 80 dias pós- parto, em média.

No experimento de Lobato et al. (2000), as vacas da DC tiveram IEP médio de 381,6 dias, inferior ao IEP médio observado no presente experimento nas vacas do DC (391,7 dias), uma diferença de 10 dias. No entanto, como exposto acima, no experimento citado as vacas foram manejadas em pastagem melhorada no pré e pós-parto.

A não observação de diferença estatística entre T1 e T3 sugere que a utilização de cargas animais moderadas, como 0,6 EV/ha em campo nativo, não retarda a retomada da atividade sexual pós-parto em vacas primíparas, quando comparado à utilização de pastagens melhoradas por um período de 80 dias pós-parto. Assim, ajustando-se a carga animal no pré-parto, de modo a que as vacas cheguem ao parto com adequada CC, faz-se desnecessário o uso de pastagens melhoradas no pós-parto para vacas primíparas aos três anos. Desse modo, as áreas de pastagem melhorada podem ser ocupadas por categorias mais exigentes, como animais em crescimento ou animais em terminação.

 

Conclusões

Vacas mantidas em carga animal moderada (0,6 EV/ha) têm alta condição corporal ao parto e ao início do acasalamento, possibilitando alta taxa de prenhez (>90%).

Vacas mantidas em carga animal mais baixa em campo nativo (0,6 EV/ha) têm alto desempenho reprodutivo, semelhantemente às vacas mantidas em pastagem melhorada por 80 dias pós-parto.

Vacas mantidas sob carga animal mais baixa (0,6 EV/ha) têm melhor condição corporal pós-parto (>3) e, conseqüentemente, concebem mais cedo dentro da estação de acasalamento.

Em vacas primíparas com adequada condição corporal ao parto e ao início do acasalamento (3,5), a utilização do desmame precoce não incrementa significativamente a taxa de prenhez.

 

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